D. António Francisco dos Santo
-O
meu testemunho-
Faleceu D. António Francisco dos Santos em 11 de setembro de
2017.
Filho de Cinfães, bispo do Porto, homem do mundo a caminho de
Deus.
Ficaram mais pobres a diocese do Porto, os pobres da cidade,
o concelho de Cinfães e os seus amigos por tantos lugares espalhados.
Não posso nem quero ficar silencioso.
O Caminho de trabalho e ação que desde os seus 9 anos fizemos
juntos na diferença de projetos de vida é longo demais para haver silêncio
calado.
Para evitar emoções intensamente vividas nestes momentos
difíceis e por evidenciar já a verdade e sentimentos agora exaltados, incluo
nesta mensagem parte da minha intervenção de viva voz dirigida ao próprio em 23
de maio de 2011 na homenagem que rotary club de Cinfães em boa hora levou a cabo
na pensão de Porto Antigo e para a qual me solicitaram intervenção.
«(…) Saúdo o Rotary
club de Cinfães pela iniciativa justa ,devida, oportuna e adequada em
homenagear D. António Francisco dos
Santos , acumulando esta homenagem ao título de Homem Paul Harris com que
Rotary Club de Aveiro já o tinha distinguido.
Saúdo também em nome da ASEL D. António Francisco pela sua
estatura intelectual e moral, grandeza de alma, senso de atuação, vivência social
e sensibilidade humana.
Não há história sem memória e D. António é já parte dos
seminários de Lamego, das terras Cinfães, das dioceses de Braga, de Lamego ou
Aveiro porque deixou e está a deixar memória viva e rastos de bondade por ponde
passou, passa ou vive.
D. António é uma notável figura da igreja e do concelho de
Cinfães, não porque é padre, não porque é bispo, mas sim porque antes disso foi
homem de:
-ação e decisão, de estudo e dedicação, de humanismo e
virtude, da palavra e da bondade, de trabalho e dignidade, de inteligência superior
e superior perspicácia, de grandeza na retaguarda das decisões, de valia no
segredo dos aconselhamentos.
Grande nestas coisas, todos hoje o reconhecemos grande também
nos esconderijos do saber, nos meandros da vida, nas lides da cultura, na sua ligação
ao povo, aos sem voz, aos sem tribuna, aos sem pão, aos doentes, aos sem
família ou aos sem-abrigo. (…)
Já em Resende, no seminário menor, pequeno entre os pequenos
ou sei lá, grande entre os mesmo, sobressai pela concentração nos estudos,
ideias claras nas coisas simples , cedência aparente nas discussões de corredor
e humildade visível face ao ordenamento existente.
D. António por onde quer que andou, passou ou parou procurou sempre
encontrar e enaltecer os nativos de Cinfães, filhos da sua terra e irmãos da
diáspora numa grandeza rara de entre os homens fazer amigos e nos amigos dar
vida à amizade.
E foi esta marca de serenidade e bom senso, de persistência e
insistência, de estudo e oração, de sorriso e seriedade que marcou o seu
caminho, sereno e seguro, de Tendais a Resende, a Lamego, à Pesqueira, a Paris,
e às dioceses que depois o levaram ao mundo na ordenação episcopal, tornando-o missionário
da vinha do Senhor e seu principal obreiro. (…)»
Acima disto que dizer mais, quando a verdade ainda nos
confunde como um sonho de criança ou pesadelo de juventude?
A verdade porém é que já não vive e só nos resta viver a
realidade.
Bispo estimado em Braga, desejado em Aveiro e agora já muito
querido no Porto, partiu quando menos se esperava deixando boquiabertos pessoas
e entidades, estarrecidos a olhar o espaço vazio.
Deus e a Natureza fizeram as coisas.
Surpreendeu o Porto na sua morte como o havia surpreendido na
sua vida.
Alma grande onde todos cabíamos, abraçou a cidade e o seu
povo, conquistou o clero e os consagrados, viveu a diocese e os seus problemas.
Do seu clero e diocese conhecia a génese e o seu caminho. A
todos e cada um chamava pelo seu nome e de todos conhecia parte do seu
percurso.
Vivia com os que viviam, sorria com os que sorriam e sofria
com os que sofriam.
A minha verdade não cabe nestas linhas, mas sinto-me
impotente para descrever as realidades sentidas e os momentos vividos.
Resta-me agradecer a Deus ter partilhado tanto da sua
bondade, conhecido tanto as suas virtudes e beneficiado tanto do seu saber.
Ainda padre confortou meus pais na casa onde viviam já
próximos do seu fim na terra; já bispo, como dádiva recebida, aqui na Senhora
da Hora, continuava a visitar-nos em casa e na casa de meus filhos, onde meus
netos lhe usaram o colo e beijaram o rosto.
Que Deus o recompense.
Chamam-lhe bispo da bondade.
É muito mais que isso.
Fica bem e é honesto juntar à sua bondade a sua cultura, o
seu saber, o seu sorriso, a sua pastoral, a sua gestão diocesana, a sua noção
de responsabilidade, a sua palavra de enlevo positivo, as suas obras de
misericórdia, o seu abraço de paz e o seu olhar de perdão.
Não avisou ninguém da sua morte e ninguém faltou ao momento
da partida.
Repousa no túmulo dos bispos na capela de S. Vivente nos
claustros da Sé do Porto.
Homem de causas e princípios, contagiante bispo mariano,
exemplar comunicador de sentimentos, dispensador de tranquilidade e paz, partiu
como viveu de alma suspensa do seu lema episcopal: «In Manus Tuas».
Senhora
da Hora, 11 de outubro de 2017
Adão
Sequeira
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