Homenagem ao Maestro - Aselista e
Cinfanense
-1- Foi no dia 12 de
outubro de 2019.
Todos sabem quem é. Cinfães também.
Joaquim Araújo Pereira Pinto, maestro, compositor e
professor.
Oitavo filho de uma família exemplar de 10 irmãos,
recebeu da mãe o ADN musical numa profusão tal que na véspera de nascer, a mãe,
(testemunho verdadeiro), terá sentido e ouvido acordes ou sons quase musicais
emitidos por um «lamiré» infantil. Era o prenúncio.
De Souselo ao Seminário, do seminário ao mundo,
depois e finalmente a Cinfães onde trabalhou e trabalha, onde produziu e produz,
onde esteve e está, onde foi e ainda é.
-2-
Em boa hora a «Associação
de Cultura e Desporto de Cinfães» decidiu promover esta homenagem ao homem, ao
maestro, ao compositor e professor.
As
homenagens corajosas fazem-se em vida e ficam na memória comunitária a garantir
a realidade passada, a verdade presente e a memória futura. Nunca é demais
repetir que «quem não honra a memória não tem história», certamente.
Homenagear
o Araújo Pereira Pinto é não só agradecer a Deus o dom da sua existência, evocar
as suas qualidades musicais, lembrar as suas virtudes humanas, manifestar-lhe o
nosso reconhecimento, mas também enaltecer a terra onde nasceu, a cultura que a
enformou e divulgar pelo país e pelo mundo fora a grandeza dos humildes, a «sabedoria»
dos sábios e a «genialidade» dos génios.
Cinfães
é maior com ele e fica mais pobre se o não divulgarmos.
Parabéns a todos na pessoa do Dr. Mário Rocha,
Presidente da Associação.
-3-Dinamizada pela Associação Cultural, apoiada
pela Câmara e acarinhada pela
igreja local, este evento deu vida e forma ao
sentimento geral e espontâneo de quem com ele conviveu e visibilidade ao
conteúdo profundo do amor criativo do homenageado à sua terra natal, terra de montes
e vales, terra de músicos e cantores.
A
«Cinfaníada» é toda ela uma magistral composição evocativa da sua terra, dos
seus costumes e cantares. Onde puder haver música e canto, não vive a tristeza.
«O
meu amor disse que vinha,
Quando a lua viesse;
A
lua já acolá vem
E
meu amor não aparece».
Um
cancioneiro, alma permanente de um povo ou região, é a expressão da alegria, da
vida e voz de uma cultura que não morre jamais. E foi exatamente ao cancioneiro
de Cinfães que o Maestro foi buscar o tom e o som para perpetuar em três momentos
de original e magnífica harmonia musical os Sons da Montanha, do Vale e da Ribeira.
Os
50 músicos instrumentais vindos das sete bandas musicais do concelho e as 70 vozes
harmoniosas selecionadas nos vários coros neles também existentes, empolgaram o
Auditório repleto de ouvintes com originais do Araújo Pereira Pinto.
Tal
como a «Cinfaníada» também a homenagem evocativa dos 80 anos que o Maestro parece
não ter, se viveu em 3 momentos:
de
manhã, momento eucarístico na igreja matriz de Cinfães presidida pelo Bispo
emérito de Lamego D. Jacinto, seu colega e amigo do seminário , ao meio dia
almoço convívio na Quinta da Regadinha e à tarde concerto no Anfiteatro
Municipal
-4-
De quem já tantos falaram
que mais há a escrever? Tudo e nada.
Menino
traquina, jovem quase irreverente, inteligência perspicaz e quase antecipada,
raciocínio estruturado, diálogo sequencial, dedução lógica, católico convicto,
seminarista querido, professor estimado, compositor reconhecido e maestro
apreciado. Grande entre os maiores.
Autor
de tantos e tão belos hinos, eu próprio reconhecido lhe agradeço a música e
letra do Hino da ASEL que em boa hora lhe solicitei e a que logo acedeu com alegria
de quem tem sempre tempo e alguma coisa para dar. Obrigado Maestro.
Eu sei que ele não quer nem precisa que diga aqui e
agora que é dos melhores e mais conceituados maestros e compositores da geração
moderna a nível nacional.
Mas eu sei (e deve dizer-se), que ele é o expoente
máximo e visível de marido exemplar no carinho, amor, dedicação, apoio
abençoado e sem limite na saúde e na doença da sua querida mulher.
Esta é a coroa que mais a honra e o diadema que mais
o dignifica.
E para findar ou reparar a omissão de tudo o que se disse
ou não disse e vermos quanto é justa e oportuna a homenagem levada a efeito eu
cito a este respeito e a este homenageado a frase e pensamento de D. António Francisco
que me dizia:
«é sempre muito mais o que Deus sabe de nós do que
aquilo que os homens nos reconhecem». Assenta
que nem uma luva.
Chamo ainda aqui o rasto do seu passado, o íntimo do
seu sentimento, a vivência solidária e humanista que vivia já na sua juventude,
expressa em março de 1958, num belo e sentido soneto que lhe saiu da alma, publicado
no jornal «Estrela Polar» e que depois, em 2007 foi selecionado para integrar a
«Antologia da Estrela Polar» e constitui a página 470 desse livro que
imortaliza Seminário e Seminaristas:
Tarde outonal, instante e surdamente
A chuva cai serena… miudinha…
O vento sopra forte, intermitente…
Na rua não passara uma andorinha!
Mas numa esquina surge de repente,
Um vulto negro e pobre de velhinha,
Que esboçando um sorriso de contente,
Devagarinho, a tiritar, caminha…
Oculto no avental, leva consigo
Um pão com mel. Na curva do caminho,
Passa, porém, ao lado de um mendigo.
- «Tens frio?» - perguntou. - «Sim, frio e fome!...»
A pobre estremeceu… e… o fresquinho
Pão lhe entregou. «- Também mo deram… Come…»
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