quarta-feira, 9 de setembro de 2020

11 de setembro uma data a não esquecer!

 

D. António Francisco dos Santos 

-Vão lá 3 anos-

Não pode agora desaparecer da memória quem na nossa memória estaria sempre se o fim do seu tempo na terra não tivesse chegado tão cedo.

A memória não é sentimental, mas afetiva.

Recordar o tempo e os atos é também apreciar e reviver qual terá sido o melhor momento de maior grandeza de alma, gesto ou pastoral daquele que veio a falecer Bispo do Porto, cidade e povo que ganhou pela bondade e amava na realidade.

Sorridente e  afável, era a expressão feliz duma grandeza humana de rara semelhança, um senso acumulado de clareza social, um raciocínio perspicaz e imediato  e uma intelectualidade consistente e profunda.

Recordando atos e factos, não consigo saber onde foi maior na sua vida, na sua ação, na sua intervenção ou na sua mensagem.

Sempre alegre e feliz  na vida, não é fácil distinguir o tempo e o momento em que D. António Francisco  esteve mais perto de Deus e do povo, se foi  quando  bispo em 3 dioceses e em cada uma  deixou o seu rasto , marca, memória e história, se foi quando  Padre António  em Lamego ou Paris junto de alunos, paroquianos e emigrantes conseguindo permanecer em todos para além do tempo, ou  se foi na sua juventude, quando ainda aluno agregava colegas de seminário ou espalhava de graça os sorrisos da vida nos encontros que realizava.

Sendo empolgante o seu final como bispo, são de igual tamanho e grandeza os precedentes, porque sempre foi possível ver nele o homem diferente em que se adivinhava a montanha alta que atingiria na vida que tivesse e na vida daqueles que viajassem no mesmo caminho.

De braço estendido à cidade e com os dois abertos aos pobres e carenciados, todos na sua alma cabiam e todos no seu coração residiam.

Com todos rumou a Fátima e em Fátima, no dia 9 todos entregou a Maria. No dia 10 descansou. No dia 11 partiu.

Foi em setembro. Vão lá 3 anos.

As palavras a todos deixadas são semente viva que continua a germinar e a responsabilizar-nos como «herdeiros da verdade, servidores da solidariedade e responsáveis pela construção do bem comum».

Tudo em D. António valeu a pena.

Valeu a pena viver, ter amigos e amar o povo.

Valeu a pena lembrar ao poder o seu dever.

Valeu a pena lembrar aos ricos o destino devido e justo das suas sobras.

Valeu a pena chamar os pobres à sua mesa, os descalços à sua sapataria, ou os de cabelo por cortar à sua barbearia.

Tudo isto foi presente, tudo isto é passado, tudo isto ainda vive nas ruas e caminhos das terras por onde passou e nas avenidas e vielas da cidade de onde partiu.

Tudo isto foi visto, tudo isto é Cristo, tudo isto é memória, história, vida e realidade afirmativa que D. António afinal continua vivo cá, mesmo depois de já estar Lá.

Vale a pena reler ou ouvir de novo as suas palavras de ânimo e ação em que ele vê também nos outros a verdade da sua vida e a abundância da sua bondade:

«Vale a pena saber , meus irmãos, que há homens e mulheres que não se cansam de cuidar da vida da pessoa humana , em todas as fases, sobretudo quando ela está doente, quando ela sofre, quando ela é frágil, quando ela precisa, quando ela é indefesa.»

Ou quando profeticamente disse: « uma vida inteira não se encerra numa palavra, não se fecha na memória, nem tão pouco se devolve  no tempo (…), uma vida dada é um tesouro que se guarda, é uma semente que germina, é uma luz que irradia e irrompe cada manhã».  

… E vale também a pena lembrar que partiu há 3 anos.

Há uma flor sempre verde na capela de S. Vicente na Sé do Porto sobre o túmulo que o guarda a lembrar e representar cada um de nós.

E quando lá vou, pela ação do movimento, a flor mexe, em sinal de vida.

 

 Adão Sequeira

(11-9-2020 )