quarta-feira, 16 de outubro de 2019


         Homenagem ao Maestro - Aselista e Cinfanense

-1- Foi no dia 12 de outubro de 2019.

Todos sabem quem é. Cinfães também.
Joaquim Araújo Pereira Pinto, maestro, compositor e professor.
Oitavo filho de uma família exemplar de 10 irmãos, recebeu da mãe o ADN musical numa profusão tal que na véspera de nascer, a mãe, (testemunho verdadeiro), terá sentido e ouvido acordes ou sons quase musicais emitidos por um «lamiré» infantil. Era o prenúncio.
De Souselo ao Seminário, do seminário ao mundo, depois e finalmente a Cinfães onde trabalhou e trabalha, onde produziu e produz, onde esteve e está, onde foi e ainda é.


-2- Em boa hora a «Associação de Cultura e Desporto de Cinfães» decidiu promover esta homenagem ao homem, ao maestro, ao compositor e professor.
As homenagens corajosas fazem-se em vida e ficam na memória comunitária a garantir a realidade passada, a verdade presente e a memória futura. Nunca é demais repetir que «quem não honra a memória não tem história», certamente.
Homenagear o Araújo Pereira Pinto é não só agradecer a Deus o dom da sua existência, evocar as suas qualidades musicais, lembrar as suas virtudes humanas, manifestar-lhe o nosso reconhecimento, mas também enaltecer a terra onde nasceu, a cultura que a enformou e divulgar pelo país e pelo mundo fora a grandeza dos humildes, a «sabedoria» dos sábios e a «genialidade» dos génios.
Cinfães é maior com ele e fica mais pobre se o não divulgarmos.
 Parabéns a todos na pessoa do Dr. Mário Rocha, Presidente da Associação.

-3-Dinamizada pela Associação Cultural, apoiada pela Câmara e acarinhada pela
igreja local, este evento deu vida e forma ao sentimento geral e espontâneo de quem com ele conviveu e visibilidade ao conteúdo profundo do amor criativo do homenageado à sua terra natal, terra de montes e vales, terra de músicos e cantores.
A «Cinfaníada» é toda ela uma magistral composição evocativa da sua terra, dos seus costumes e cantares. Onde puder haver música e canto, não vive a tristeza.
«O meu amor disse que vinha,
 Quando a lua viesse;
A lua já acolá vem
E meu amor não aparece».
Um cancioneiro, alma permanente de um povo ou região, é a expressão da alegria, da vida e voz de uma cultura que não morre jamais. E foi exatamente ao cancioneiro de Cinfães que o Maestro foi buscar o tom e o som para perpetuar em três momentos de original e magnífica harmonia musical os Sons da Montanha, do Vale e da Ribeira.
Os 50 músicos instrumentais vindos das sete bandas musicais do concelho e as 70 vozes harmoniosas selecionadas nos vários coros neles também existentes, empolgaram o Auditório repleto de ouvintes com originais do Araújo Pereira Pinto.
Tal como a «Cinfaníada» também a homenagem evocativa dos 80 anos que o Maestro parece não ter, se viveu em 3 momentos:
de manhã, momento eucarístico na igreja matriz de Cinfães presidida pelo Bispo emérito de Lamego D. Jacinto, seu colega e amigo do seminário , ao meio dia almoço convívio na Quinta da Regadinha e à tarde concerto no Anfiteatro Municipal

-4- De quem já tantos falaram que mais há a escrever? Tudo e nada.
Menino traquina, jovem quase irreverente, inteligência perspicaz e quase antecipada, raciocínio estruturado, diálogo sequencial, dedução lógica, católico convicto, seminarista querido, professor estimado, compositor reconhecido e maestro apreciado. Grande entre os maiores.
Autor de tantos e tão belos hinos, eu próprio reconhecido lhe agradeço a música e letra do Hino da ASEL que em boa hora lhe solicitei e a que logo acedeu com alegria de quem tem sempre tempo e alguma coisa para dar. Obrigado Maestro.
Eu sei que ele não quer nem precisa que diga aqui e agora que é dos melhores e mais conceituados maestros e compositores da geração moderna a nível nacional.
Mas eu sei (e deve dizer-se), que ele é o expoente máximo e visível de marido exemplar no carinho, amor, dedicação, apoio abençoado e sem limite na saúde e na doença da sua querida mulher.
Esta é a coroa que mais a honra e o diadema que mais o dignifica.
E para findar ou reparar a omissão de tudo o que se disse ou não disse e vermos quanto é justa e oportuna a homenagem levada a efeito eu cito a este respeito e a este homenageado a frase e pensamento de D. António Francisco que me dizia:
«é sempre muito mais o que Deus sabe de nós do que aquilo que os homens nos reconhecem».  Assenta que nem uma luva.
Chamo ainda aqui o rasto do seu passado, o íntimo do seu sentimento, a vivência solidária e humanista que vivia já na sua juventude, expressa em março de 1958, num belo e sentido soneto que lhe saiu da alma, publicado no jornal «Estrela Polar» e que depois, em 2007 foi selecionado para integrar a «Antologia da Estrela Polar» e constitui a página 470 desse livro que imortaliza Seminário e Seminaristas:

Tarde outonal, instante e surdamente
A chuva cai serena… miudinha…
O vento sopra forte, intermitente…
Na rua não passara uma andorinha!

Mas numa esquina surge de repente,
Um vulto negro e pobre de velhinha,
Que esboçando um sorriso de contente,
Devagarinho, a tiritar, caminha…

Oculto no avental, leva consigo
Um pão com mel. Na curva do caminho,
Passa, porém, ao lado de um mendigo.

- «Tens frio?» - perguntou. - «Sim, frio e fome!...»
A pobre estremeceu… e… o fresquinho
Pão lhe entregou. «- Também mo deram… Come…»
                                                                        
Adão Sequeira       

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A ASEL agradece a colaboração neste blogue