quinta-feira, 9 de setembro de 2021

D. António Francisco dos Santos – 4 anos depois

 


D. António Francisco dos Santos – 4 anos depois

 

Um sabor a diálogo. 

Ninguém morre enquanto viverem e falarem os seus atos ou forem modelo de vida os seus exemplos.
Evocar a morte e recordar a vida é garantir a presença.
O tempo vai passando e continua vivo o «tu» da tua vida.
Como semente espalhada nas terras por onde andaste, centenas de mensagens dão ainda força a quem delas já precisou.
Numa carta de pêsames, manuscrita e bem legível, algures, numa habitação normal, lia-se:
«...ao orgulhares-te dos pais que tiveste (...) sentes o maior lenitivo para a tua saudade e ao acreditares na vida eterna encontras a melhor resposta para as tuas lágrimas».
E noutro lugar ainda:
«...a minha saudação muito amiga e fraterna acompanha a minha gratidão pela tua mensagem e votos de Natal».
Cruz ao peito, sorriso nos lábios, mão suave estendida e tu no meio da multidão, junto de crianças, entre os teus párocos ou um sem abrigo por perto.
Isto é vida ainda por aí espalhada em silêncio ruidoso. Isto és tu «D. António no teu melhor».
Cartões de aniversários, boas festas de Natal, parabéns de atos vividos ou lenitivo nas dores da vida, toda uma pastoral de alegria e esperança que continua ainda a florir nas casas aonde entraste, entre os documentos dos teus amigos, nas paróquias das tuas dioceses e nas malas de emigrantes.
Cada padre de Aveiro, Braga, Lamego ou Porto, com nome expresso, tem certamente na sua mesa ou secretária um cartão evocativo de um aniversário, de uma festa, de um evento.
Cada amigo tem com certeza também uma frase ou uma mensagem que ainda conserva.
Cada sem abrigo do Porto tem na sua memória uma memória «tua».
Cada pobre da cidade guarda ainda na alma uma esperança dum sonho que sonhou.
Os doentes conhecidos eram família tua a visitar. Sem pressa.
As mães dos teus párocos eram «irmãs da tua mãe - Donzelina».
Os Aselistas um bocado de ti mesmo.
A todos chamavas pelo seu nome e de todos conhecias um bocado de vida.
Vives e estás presente no meio disto tudo, mas não apareces desde aquele 11 de setembro.
Um sorriso em movimento numa vida sorridente continua na brisa do tempo que passa.
A leveza da tua mão no ombro de quem precisava continua ainda a pesar suavemente, a sentir-se e a manter o contágio da tua presença.
No 4º ano da partida é o «tu» dos teus que fica aqui lembrado.
Um «tu» de respeito evocativo da «tua» bondade; e também o «tu» da irmandade, da proximidade nos homens e igualdade em Deus.
O menino frágil que batizastes na IPSS Kastelo está bem e o Covid não entrou lá. Dizem que entregaram a ti a sua proteção.
Eu não sei o que dizer nem escrever, mas tenho dificuldade ficar em silêncio no silêncio do tempo.
Fala-se na tua bondade e santidade. Eu acrescento: a tua competência pastoral, o teu carinho aos teus párocos, a tua dignidade humana, o teu humanismo social, a tua visão comunitária e o teu carisma solidário.
Há por aí «livros, teses, estátuas, bustos, quadros, pinturas, prémios, salas, ruas, avenidas, rotundas e até brevemente pontes» com o teu nome. Isso é bom.
Restos de vida dum tempo que foi.
E se nalgum tempo futuro os homens de ti não falarem, serão então as coisas a levantar a sua voz.
Ainda se fala que «a Alegria do Evangelho é a Nossa Missão» e que «os pobres não podem esperar».
Na campa do teu sepulcro um ramo de flores naturais e bonitas continua diariamente fresco como fresco e belo era o teu convívio e reconfortantes as tuas palavras.
A Sé do Porto que foi tua está em obras e a diocese está bem.
O teu Seminário de Lamego está em reestruturação.
Cinfães que tanto divulgaste continua a lembrar-te.
Aveiro deu-te uma avenida e guarda a tua memória.
Hoje estou a escrever-te aqui de Fátima. É para o dia 11.
É meia noite e pouco, já domingo, 29 de agosto, (fazias anos), e dei comigo a recordar, como se fosse ontem, o 13 de maio de 1967 quando aqui vieste pela 1ª vez (e eu também) no cinquentenário da aparições, e o 9 de setembro de 2017 no centenário das mesmas, (onde nos cumprimentamos) e em que tu, sem avisares aqui te despediste.
Entregaste a tua diocese e o seu povo à «Mãe» e partiste. Não deixaste órfãos.
É suave continuar viagem contigo, mesmo que sigas na outra rua ao lado.
Estas as notícias que tinha para te dar e aqui tas deixo.

                                                                                                Adão Sequeira


5 comentários:

  1. Dr. Adão Sequeira
    Parabéns, por este magnifico texto sobre D. António Francisco dos Santos. Grande Meditação para qualquer ser humano peregrino neste planeta. Quem não gosta de ouvir falar sobre D. António? Impossível! Da criança ao velhinho, atravessou-se por todas as gerações e deixou marcas de reflexão positiva, que qualquer ser humano recorda e elogia com um sentimento profundo de gratidão. Bem-haja, por recordar D. António aos que o conheceram e aqueles que gostariam de o ter conhecido. Grande Abraço. Manuel Filipe

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Adão Sequeira - 12 de setembro de 2021 15:57
      Manuel Filipe, estimado amigo.
      Deveras sensibilizado com as suas palavras sobre o texto de D. António.
      Bondade sua ao escrever.
      No entanto foi o que com alegria saiu para que ele continue.
      É uma salada de sentimentos iguais certamente aos de todos.
      As verdades com D. António são bocados de vida.
      As coisas têm valor quando valem para alguma coisa.
      E em D. António parece mesmo que tudo vale.
      Bem haja amigo Filipe pelo seu apoio neste momento e neste assunto.
      Um abraço do Adão

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  2. Deus precisou dele e chamou-o... esta foi a razão da sua partida que um dia ouvi pessoalmente do Frei Feitor Pinto.
    Talvez, entre as várias hipóteses, esta talvez a mais consensual; mas, meu Deus, perdoa-me chamar te invejoso porque nós precisávamos tanto dele!!! As lágrimas quase voltam a cair porque a saudade é enorme e a quem o recordamos ouvimos: era um Santo... Se era, o que será hoje??? Sem dúvida, um Auxiliar no Reino Celeste.
    D. Antônio sabes e reconheces quem te recorda, quem te reconhece e quem precisa de ti. Olha por nós junto do Pai e nunca abandones as ovelhas de quem foste Pastor e que encaminhaste durante tão poucos anos... Hoje estou acompanhado do nosso Amigo que há 4 anos me ligou a dar a triste notícia e que depois quiz confirmar com o Adão a quem apanhei de surpresa. Foi um bater profundo no coração... Nada o faria prever. Foste com teu rebanho à Mãe e aí tevdespediste d'Ela. Continua a olhar por todos nós;dá uma luz forte à nossa Asel que ajudaste a gundar; ilumina a nossa Diocese, os nossos Seminários. Junto ao Pai, não te esqueças nunca dos que te Amam.
    Descansa em Paz e recebe o nosso OBRIGADO sincero e reconhecido.
    Cândido Teixeira

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  3. Adão Sequeira, 12 de setembro.
    Cândido, caminhamos no mesmo sentido e no mesmo caminho.
    Mas Se Deus precisou dele Lá Cima, devia deixar-nos alguém como ele a substitui-lo, mas eu ainda não dei conta disso.
    E tu sabes muito bem disso. Recorda só o funeral de tua mãe e diz-me se alguém teria sido igual a ele ?
    Que ele nos ajude... e que nós não o esqueçamos.
    Ajuda.
    Um abraço. Adão

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