sexta-feira, 20 de outubro de 2017

D. António Francisco dos Santos -O meu testemunho-

D. António Francisco dos Santo
-O meu testemunho-


Faleceu D. António Francisco dos Santos em 11 de setembro de 2017.
Filho de Cinfães, bispo do Porto, homem do mundo a caminho de Deus.
Ficaram mais pobres a diocese do Porto, os pobres da cidade, o concelho de Cinfães e os seus amigos por tantos lugares espalhados.
Não posso nem quero ficar silencioso.
O Caminho de trabalho e ação que desde os seus 9 anos fizemos juntos na diferença de projetos de vida é longo demais para haver silêncio calado.
Para evitar emoções intensamente vividas nestes momentos difíceis e por evidenciar já a verdade e sentimentos agora exaltados, incluo nesta mensagem parte da minha intervenção de viva voz dirigida ao próprio em 23 de maio de 2011 na homenagem que rotary club de Cinfães em boa hora levou a cabo na pensão de Porto Antigo e para a qual me solicitaram intervenção.

«(…)  Saúdo o Rotary club de Cinfães pela iniciativa justa ,devida, oportuna e adequada em homenagear  D. António Francisco dos Santos , acumulando esta homenagem ao título de Homem Paul Harris com que Rotary Club de Aveiro já o tinha distinguido.
Saúdo também em nome da ASEL D. António Francisco pela sua estatura intelectual e moral, grandeza de alma, senso de atuação, vivência social e sensibilidade humana.
Não há história sem memória e D. António é já parte dos seminários de Lamego, das terras Cinfães, das dioceses de Braga, de Lamego ou Aveiro porque deixou e está a deixar memória viva e rastos de bondade por ponde passou, passa ou vive.

D. António é uma notável figura da igreja e do concelho de Cinfães, não porque é padre, não porque é bispo, mas sim porque antes disso foi homem de:
-ação e decisão, de estudo e dedicação, de humanismo e virtude, da palavra e da bondade, de trabalho e dignidade, de inteligência superior e superior perspicácia, de grandeza na retaguarda das decisões, de valia no segredo dos aconselhamentos.
Grande nestas coisas, todos hoje o reconhecemos grande também nos esconderijos do saber, nos meandros da vida, nas lides da cultura, na sua ligação ao povo, aos sem voz, aos sem tribuna, aos sem pão, aos doentes, aos sem família ou aos sem-abrigo. (…)
Já em Resende, no seminário menor, pequeno entre os pequenos ou sei lá, grande entre os mesmo, sobressai pela concentração nos estudos, ideias claras nas coisas simples , cedência aparente nas discussões de corredor e humildade visível face ao ordenamento existente.
D. António por onde quer que andou, passou ou parou procurou sempre encontrar e enaltecer os nativos de Cinfães, filhos da sua terra e irmãos da diáspora numa grandeza rara de entre os homens fazer amigos e nos amigos dar vida à amizade.
E foi esta marca de serenidade e bom senso, de persistência e insistência, de estudo e oração, de sorriso e seriedade que marcou o seu caminho, sereno e seguro, de Tendais a Resende, a Lamego, à Pesqueira, a Paris, e às dioceses que depois o levaram ao mundo na ordenação episcopal, tornando-o missionário da vinha do Senhor e seu principal obreiro.  (…)»
Acima disto que dizer mais, quando a verdade ainda nos confunde como um sonho de criança ou pesadelo de juventude?
A verdade porém é que já não vive e só nos resta viver a realidade.

Bispo estimado em Braga, desejado em Aveiro e agora já muito querido no Porto, partiu quando menos se esperava deixando boquiabertos pessoas e entidades, estarrecidos a olhar o espaço vazio.
Deus e a Natureza fizeram as coisas.
Surpreendeu o Porto na sua morte como o havia surpreendido na sua vida.
Alma grande onde todos cabíamos, abraçou a cidade e o seu povo, conquistou o clero e os consagrados, viveu a diocese e os seus problemas.
Do seu clero e diocese conhecia a génese e o seu caminho. A todos e cada um chamava pelo seu nome e de todos conhecia parte do seu percurso.
Vivia com os que viviam, sorria com os que sorriam e sofria com os que sofriam.
A minha verdade não cabe nestas linhas, mas sinto-me impotente para descrever as realidades sentidas e os momentos vividos.
Resta-me agradecer a Deus ter partilhado tanto da sua bondade, conhecido tanto as suas virtudes e beneficiado tanto do seu saber.
Ainda padre confortou meus pais na casa onde viviam já próximos do seu fim na terra; já bispo, como dádiva recebida, aqui na Senhora da Hora, continuava a  visitar-nos  em casa e na casa de meus filhos, onde meus netos lhe usaram o colo e beijaram o rosto.
Que Deus o recompense.
Chamam-lhe bispo da bondade.
É muito mais que isso.
Fica bem e é honesto juntar à sua bondade a sua cultura, o seu saber, o seu sorriso, a sua pastoral, a sua gestão diocesana, a sua noção de responsabilidade, a sua palavra de enlevo positivo, as suas obras de misericórdia, o seu abraço de paz e o seu olhar de perdão.
Não avisou ninguém da sua morte e ninguém faltou ao momento da partida.
Repousa no túmulo dos bispos na capela de S. Vivente nos claustros da Sé do Porto.
Homem de causas e princípios, contagiante bispo mariano, exemplar comunicador de sentimentos, dispensador de tranquilidade e paz, partiu como viveu de alma suspensa do seu lema episcopal: «In Manus Tuas».
                                   Senhora da Hora, 11 de outubro de 2017

                                                                       Adão Sequeira            

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